Não podemos pensar que a quantidade de chuva que tivemos neste ano será suficiente para nos livrar da crise de abastecimento de água. A água está se tornando um produto cada vez mais raro, exigindo de todos conscientização para fazer uso adequado, economizando ao máximo para garantir que a tenhamos no futuro.
Recentemente, em São Paulo, a Sabesp – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo lançou mais uma das ações para combater a crise de abastecimento com a distribuição de um dispositivo de torneira para economia de água, usando como tema “Se usar bem, ninguém fica sem”.
Contudo, como se estivéssemos ainda no auge da crise de água de 2014, a estratégia para contornar o problema continua sendo a mesma, ou seja, apelar para a boa vontade da população, fazendo com que as pessoas sintam-se culpadas pela crise de abastecimento.
No verão passado, um grande número de cidades do litoral paulista ficou sem água e isso bem próximo à época das festas de final de ano, quando a maior parte das pessoas está em férias e procura o litoral para descansar. Para os setores que cuidam do abastecimento, isso aconteceu em razão do aumento de consumo dos turistas, sem levar em consideração que era um período também de calor.
Como solucionar a crise de abastecimento
O noticiário durante o ano de 2016 mostrou a dificuldade que muitas cidades tiveram com a falta sistemática de água, comprovando que, mesmo com maior quantidade de chuvas, a crise de abastecimento continuou. No entanto, existem meios práticos de se fazer economia de água, dispensando um pouco do que é recebido pela rede externa, com a instalação de reservatórios para captação de água das chuvas e seu aproveitamento para usos que não exigem água potável, como rega de jardins, descargas de banheiro, lavagem de pisos, etc.
Não podemos é nos deixarmos levar por comunicados oficiais afirmando que não falta água e que a crise está superada. Seguindo esses comunicados, as pessoas não se preocupam com o consumo, não fazendo a economia necessária (e nem devemos usar o termo “economia”, mas sim a racionalização do uso da água).
Podemos ter, no Brasil, o maior volume de água doce do mundo além dos polos, mas nem toda essa água está distribuída de forma igual pelo país. E também devemos analisar que o consumo é bem maior nas regiões mais densamente povoadas, exigindo custos cada vez mais altos para o tratamento, em virtude da falta de saneamento básico, o que vai tornar a água um produto cada vez mais caro.
Ou seja, se não combatermos a crise de abastecimento, iremos pagar cada vez mais por algo que acaba sendo desperdiçado simplesmente porque esteve sempre disponível. Os tempos são outros e exige novas técnicas.
Usando de forma racional a água que recebemos pela rede pública, aplicando-a para o uso higiênico e para a alimentação, podemos ter maior disponibilidade do precioso líquido. Instalar depósitos de água para captar água da chuva e reservá-la em ambiente adequado irá reduzir a conta de água de condomínios, indústrias e residências, exigindo menos da rede pública e garantindo que mais pessoas tenham a água tratada para suas necessidades.
Pode ser que os especialistas tenham razão que o verdadeiro motivo da crise de abastecimento seja a falta de consciência da população com relação ao uso da água tratada, embora também saibamos que a falta de água que tivemos em muitas cidades também seja consequência da falta de previsibilidade dos órgãos públicos com relação a obras que nunca foram realizadas.
No entanto, não podemos nos prender a isso e sim nos voltarmos para a busca de soluções. Somente esperar que os órgãos públicos tomem as medidas não é mais viável: sabemos que qualquer obra pública, pelo seu próprio caráter, leva muito mais tempo do que uma obra privada.
Aproveitando o verão e as chuvas que estão chegando podemos dar um basta à crise de abastecimento, colocando em prática o que vem sendo feito nas novas edificações (condição exigida por lei em algumas cidades), instalando depósitos para captação de água, reduzindo o consumo da rede pública e trazendo a comodidade necessária.
Em princípio, podemos pensar que teremos de investir, mas esse investimento tem retorno mais rápido do que se imagina. Pense nisso.