A água mineral engarrafada é a bebida cujo consumo mais cresce no mundo. A água mineral é refrescante, sem calorias, fácil de carregar, mais saborosa que algumas águas de filtros comuns e muito mais saudável que os refrigerantes. Dados da Associação Internacional de Águas Engarrafadas revelam que a demanda brasileira pelas águas engarrafadas cresce mais de 7% ao ano. E o Brasil já é o 4º maior mercado, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, do México e da China. No entanto, cada vez mais gente se pergunta se a água mineral e a embalagem em que ela é vendida são seguras ou, ao menos, mais seguras do que a água do filtro – e se tal conveniência vale o impacto ambiental.
O que há na garrafa de água mineral?
Nomes e rótulos atraentes e que evocam paisagens imaculadas nos convenceram de que a água mineral é a bebida mais pura do mundo.
Algumas águas engarrafadas vêm de fontes cristalinas e outros mananciais intocados – mas não todas. A Aquarius, da Coca-Cola; a Cristale, vendida no Sul do país; e a São Francisco, comercializada no Nordeste, são alguns exemplos.
A lei brasileira não proíbe o engarrafamento de águas provenientes de fontes artificiais, mas determina que as empresas que utilizam essas fontes deem o tratamento e a mineralização adequados à água antes da comercialização.
Água mineral pirata
Nesta etapa, um dos maiores perigos para o consumidor é a água mineral ‘pirata’ – que não foi fiscalizada pelos órgãos responsáveis e pode vir de fontes contaminadas por substâncias tóxicas ou microrganismos.
Em caso de dúvida, a Associação Brasileira da Indústria de Águas Minerais (Abinam) aconselha que se procure no rótulo o número de registro no Ministério da Saúde, bem como o endereço completo da fonte.
A controvérsia não é apenas sobre a água engarrafada individualmente; a maioria das pessoas também bebe água de garrafão, seja no trabalho ou em casa.
A cerca de 5 anos atrás, a Pro Teste, organização não-governamental de defesa do consumidor, testou 15 marcas de água de garrafão vendidas no país. O resultado não foi negativo, mas preocupante: embora 80% não revelassem grandes problemas, os rótulos das águas de garrafão continham informação incompleta e quantidade errada de minerais, além de não mostrarem a data de validade ou instruções para conservação.
Outras três marcas de água de garrafão apresentaram a bactéria Pseudomonas aeruginosa. Ela não oferece risco, a princípio, para quem está saudável de modo geral, mas o achado representa falha no processo de desinfecção.
A contaminação da água mineral em garrafas é mundial
A contaminação da água engarrafada desde a sua fonte é tema preocupante também em outros países. A ONG americana Natural Resources Defense Council (NRDC) descobriu que amostras de duas marcas de água mineral estavam contaminadas por ftalatos, em um dos casos, excedendo os padrões para água potável da EPA, Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos. Essas substâncias químicas – utilizadas para tornar os plásticos maleáveis, e que são encontradas em cosméticos e fragrâncias, cortinas de chuveiro e até brinquedos de bebês – estão sob investigação cada vez mais minuciosa. Elas são interferentes endócrinos, que bloqueiam ou imitam os hormônios humanos, afetando as funções normais do corpo.
Quando expostos a níveis muito elevados de ftalatos durante os períodos críticos do desenvolvimento, fetos masculinos podem sofrer malformação nos órgãos reprodutores, inclusive a ausência de descida dos testículos. Especialistas relacionam os ftalatos à baixa contagem de espermatozoides.
As garrafas de água mineral não contêm essa substância química, o que significa que os ftalatos detectados pelo NRDC provavelmente entraram na água durante o processo de engarrafamento, ou estavam presentes na fonte original (também já foram encontrados ftalatos em água da torneira).
Legislação da água mineral engarrafada
As leis brasileiras são rigorosas quanto ao comércio de água mineral engarrafada. O produto está sujeito à fiscalização desde a sua captação até o consumidor final. O Departamento Nacional de Produção Mineral autoriza e monitora a exploração das fontes de água mineral no país. Para comercializá-la, a empresa deve cumprir à risca os padrões de qualidade determinados pelo órgão responsável, limitando-se a explorar apenas o que for concedido e sendo responsável pela mão de obra, pelos recursos e pela embalagem do produto. É preciso ainda registrar a água na Anvisa e no Ministério da Saúde.
Há alguns anos, a Anvisa promove análises periódicas da qualidade de alimentos, o que inclui a água mineral engarrafada. Mas as ações de inspeção sanitária são responsabilidade dos órgãos estaduais e municipais. Só nos últimos dois anos, foram realizadas mais de 16 mil inspeções.
Quando uma marca é reprovada, os órgãos competentes adotam medidas legais para prevenir possíveis danos à saúde da população e impedir que o produto circule, ou então interrompem seu processo de fabricação. Dependendo do risco envolvido, a Anvisa pode adotar medidas de intervenção em âmbito nacional.